AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM NA SURDEZ

A aquisição da língua da criança surda é ruim?

Existe grande questionamento.

Muitos pensam que há diferenças, mas nesse texto iremos perceber que quando bem trabalhado as diferenças são mínimas, no entanto, quando trabalhado de forma tardia os prejuízos podem ser pelo resto da vida.

Para começar, vamos explicar como é a aquisição da linguagem em crianças ouvintes.

Siblings, estudou a aquisição de línguas orais por crianças. Segundo o estudioso, a aquisição da linguagem se dá em duas etapas: pré-linguística e linguística.

No estágio pré-lingüístico, o primeiro estágio da aquisição nomeado nessa nova habilidade, a capacidade linguística da criança desenvolve-se sem qualquer produção linguística identificável.

O balbuciar dos bebês de aproximadamente seis meses que sinaliza o começo da aquisição da linguagem. Esse período é tipicamente descrito como pré-linguístico porque os sons produzidos não são associados a nenhum significado linguístico.

O estágio dos balbucios é marcado por uma variedade de sons que muitas vezes são usados em alguma das línguas do mundo, embora muitas vezes não sejam a língua que a criança irá, posteriormente, falar, a língua que ela está a adquirir.

O primeiro estágio verdadeiramente linguístico da criança parece ser o estágio de uma palavra.

Nesse estágio, que aparece a poucos meses delas completarem um ano, as crianças produzem suas primeiras palavras (CORREA, 1999). Elas verbalizam as primeiras palavras que adquiriram e compreenderam.

Durante esse estágio, as suas falas se limitam a uma palavra, que são pronunciadas de maneira um pouco diferente da dos adultos.

Vigotsky e a surdez

Após o estágio de duas palavras as crianças expandem seu vocabulário, aprendem as regras de construção (negativa, passiva, etc.) presentes na língua, aprendendo seu sistema fonológico e morfológico, aperfeiçoando sua pronúncia, e, geralmente, alcançando a convenção adulta de maneira bem rápida (entre os seis e sete anos), mesmo que demorem mais a aprender estruturas mais complexas, como a voz passiva. (CORREA, 1999)

Quadros, em seus estudos observa que crianças com surdez, filhas de pais com surdez adquirem a língua de Sinais no mesmo tempo que os ouvintes em um processo parecido.

Ou seja, as regras de sua gramática são adquiridas de forma muito similar às crianças adquirindo línguas faladas.

 Assim, à medida que avançou os estudos, ela verificou que a constituição da gramática da criança independe das variações das línguas e das modalidades em que as línguas se apresentam.

As crianças surdas com menos de um ano de idade, assim como as crianças ouvintes, apontam frequentemente para indicar objetos e pessoas. No entanto, quando a criança entra no estágio de um sinal, o uso da apontarão desaparece.

 Quadros (2001) apresenta estudos que sugere que nesse período parece ocorrer uma reorganização básica em que a criança muda o conceito da apontação inicialmente gestual (pré-linguística) para visualizá-la como elemento do sistema gramatical da língua de sinais (linguístico).

Próximo aos dois anos de idade já surgem as primeiras combinações de sinais das crianças surdas, a partir de então a língua se desenvolve na relação.

Porém, muitas vezes observamos um cenário diferente desse. As crianças nascem em lares de pais ouvintes que não tinham contato com a língua de sinais. Dessa forma a aquisição da língua se torna tardia.

A aquisição tardia é frequente e afeta tanto o surdo que passa anos insistindo no aprendizado da fala sem qualquer êxito, quanto aquele que demora a ter a surdez diagnosticada ou tem dificuldades no acesso à intervenção.

A aquisição tardia de uma língua (oral ou de sinais) tornam restritas não só as possibilidades comunicativas da criança em alguns círculos sociais, mas também as possibilidades de aprendizagem de conteúdo (dentre os quais os escolares) veiculados pela língua formal (oral ou de sinais), fundamentais para o desenvolvimento cognitivo.

Para exemplificar, imagine uma criança brincando de carrinho, ao interagir com um adulto, a criança aprende uma gama de vocabulários que amplia seu conhecimento sobre aquela realidade, como buzina, regras de trânsito e localização.

A criança sem língua ou pessoa que conhece sua língua, por vezes fica sem esse conhecimento.  

Duas pesquisadoras, demonstraram em seus estudos que o êxito escolar da criança surda está diretamente relacionado com a aquisição precoce das Línguas de Sinais.

Tais pesquisas se baseiam em observações de crianças surdas, filhas de pais também surdos, que, obviamente, possuíam melhores condições para a aquisição de LIBRAS, desde o nascimento.

Sendo assim percebemos que não existe diferença na aquisição da língua oral ou de sinais, uma preocupação deve ser a aquisição tardia da língua.

Por Carolline Nunes

Capa: FreePik

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