A chegada do inverno é sinônimo de consultórios pediátricos lotados e pais preocupados com a imunidade das crianças. E não é para menos.
As baixas temperaturas, aliadas à imunidade deficitária, pode levar as crianças a ficarem doentes, especialmente com o desenvolvimento de doenças respiratórias. Em tempos de pandemia, toda atenção é necessária.
Nessa época do ano, a sazonalidade mais evidente do vírus da gripe eleva o número de infecções e de internações das crianças.
Segundo os últimos boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde, diversos vírus relacionados a patologias respiratórias, além do coronavírus, foram identificados nas crianças brasileiras.
De janeiro desse ano até o último dia 12 de junho, 45.515 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) foram notificados em crianças até 5 anos no Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), sistema oficial do Ministério da Saúde[1].
A SRAG também levou a óbito 863 crianças brasileiras na mesma faixa etária durante esse período. Em todos esses dados estão incluídos os casos de coronavírus.
A maior parte das internações hospitalares acontece em crianças até 5 anos, porque até essa idade o organismo não possui o sistema de defesa plenamente desenvolvido.
Alimentar e nutrir é diferente
A maturidade do sistema imunológico é completada na fase da adolescência, por volta dos 15 anos. Após esse período, o organismo consegue se defender de uma forma muito mais eficiente.
Antes de indicar como podemos aumentar a imunidade nas crianças, vou pontuar algumas informações sobre o sistema imunológico.
Basicamente ele é formado por um conjunto de células cuja função principal é reconhecer, destruir ou inativar qualquer estrutura considerada estranha, como uma bactéria, um vírus ou até uma célula com crescimento anormal.
Para essa defesa, o sistema imunológico conta com diversos órgãos, como o timo, as amídalas e a medula óssea, a pele e até o intestino.
As crianças já nascem com parte desse complexo sistema pronto, mas ele vai se amadurecendo com o passar do desenvolvimento da criança. Por essa razão, as crianças menores ficam mais gripadas ou resfriadas, especialmente no inverno.
Para auxiliar esse importante sistema do nosso organismo, é possível incentivar e praticar alguns hábitos e assim, fazer com que as crianças usem menos antibiótico e tenham mais imunidade.
Minhas principais dicas são:
– Optar pelo parto normal ao invés do planejamento de cesariana:
Estudos mostram que ao passar pelo canal vaginal, o bebê entra em contato com os microrganismo presentes na região, e assim inicia-se a primeira grande estimulação de produção das células de defesa.
– Promover a amamentação o quanto for possível, no mínimo até 2 anos:
Durante o aleitamento materno, o bebê recebe anticorpos presentes no leite, já na primeira mamada. Você já não ouviu falar da importância do colostro?
O colostro é o leite produzido pela mãe logo após o parto, e é considerado a “primeira vacina”.
Além disso, o contato da boca do bebê com a pele da mãe faz com que microrganismos naturais presentes na região entrem pela boca, auxiliando na formação da defesa.
Outro ponto é o contato da saliva do bebê com a aréola do seio materno, fazendo com que o leite seja produzido de acordo com as necessidades da criança.
Assim, a produção do leite se adapta com mais ou menos anticorpos de acordo com a presença ou não de quadros infecciosos no bebê. Não é mágico?
– Oferecer uma alimentação variada, rica em antioxidantes:
A regra de ouro é oferecer uma alimentação natural, rica em frutas, verduras, legumes e boas proteínas todos os dias, e não só no inverno!
Evite produtos industrializados na rotina alimentar da criança e apresente os alimentos aos pequenos em formas, texturas e preparos variados.
Cuide também do visual, criando lanches com formatos divertidos. O uso de cortadores de alimentos e utensílios coloridos ajudam a incentivar o consumo de alimentos saudáveis.
Além disso, diversas vitaminas e sais minerais participam dos processos de defesa do organismo, produzindo ações antioxidantes e devem estar presentes nos pratos da criançada. Os principais nutrientes envolvidos nesse processo são:
- Vitamina C: limão, laranja, acerola, mexerica, morango.
- Complexo B: cereais integrais, banana, castanhas, gengibre.
- Vitamina A: ovos, leite e derivados. O licopeno (nutriente que forma a vitamina A) também é importante e está presente no tomate, mamão, abóbora, melancia e goiaba.
- Vitamina E: óleos vegetais, como azeite, e castanhas.
- Zinco: castanhas, amendoim, carne vermelha e feijões.
- Selênio: castanha do Pará, castanha de caju, carnes, leite e ovos.
O consumo adequado de alimentos proteicos e de água também são fundamentais.
A proteína é o elemento básico para a construção de anticorpos e a água auxilia na eliminação de todas as partículas que causam toxicidade, inclusive microrganismos.
– Incentivar a prática de exercícios:
Com o inverno a preguiça para a prática esportiva aumenta. Contudo, são muito importantes e os pais devem incentivar de forma rotineira.
Os exercícios físicos reforçam a saúde como um todo, pois aumentam o apetite, melhoram o sono e favorecem as condições respiratórias das crianças, o que ajuda na prevenção de doenças.
Ressalto que os exercícios devem ser realizados de maneira lúdica e de acordo com a capacidade da faixa etária da criança. Treinos são indicados só a partir da puberdade e com auxílio de profissional.
Há inúmeras brincadeiras, como pega-pega, esconde-esconde e andar de bicicleta, corrida, etc, que você pode fazer com o seu filho. Tem jeito mais gostoso de fortalecer a saúde dos pequenos?
– Ser adepto da vitamina S:
Deixar a criança se sujar, ajuda na imunidade. Isso porque, o excesso de higiene pode aumentar o risco de a criança ter alergia. Leia mais sobre isso aqui no Blog no meu artigo ALERGIA ALIMENTAR: COMO CONTROLAR OU PREVENIR A DOENÇA?
A criança que não é exposta de forma adequada a microrganismos naturais do ambiente, faz com que suas células do sistema imunológico tenham reações exacerbadas quando entram em contato com agentes estranhos, desencadeando reação alérgica.
Para que seu filho ganhe mais imunidade, deixe-o livre para explorar o mundo à sua volta. O ideal é manter os cuidados básicos de higiene corporal e da casa, mas sem muitas paranoias.
E a presença de um animal de estimação, além de diversão, também vai aumentar a exposição e incentivar as defesas naturais da criança.
Por Fabiana Jarussi
Foto Capa: FreePik
Referência Bibliográfica:
- Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde: Boletim Epidemiológico Especial n. 23. Doença pelo Coronavírus COVID-19. Semana Epidemiológica 23 [Internet]. 2021 jun 12 [citado em 2021 jun 24]. Disponível em : https://www.gov.br/saude/pt-br/media/pdf/2021/junho/18/boletim_epidemiologico_covid_67.pdf
[1] Sivep-Gripe. Dados atualizados em 14/6/2021 às 12h, sujeitos a revisões.