Alergia alimentar: como controlar ou prevenir a doença?
Dia 07 de maio comemoramos o Dia Nacional de Prevenção da Alergia, e nada melhor do que abordarmos um tema de receio no consultório: a alergia alimentar.
Você sabe quais alimentos devem ser evitados para prevenir a alergia nos primeiros anos de vida do bebê?
E após o diagnóstico de alergia alimentar, como controlar a doença?
Antes de responder essas questões, vou pontuar algumas informações sobre alergia alimentar.
A alergia alimentar é uma resposta imunológica anormal, ou seja, uma hipersensibilidade, do organismo frente a determinados alimentos.
Basicamente alguns organismos encaram componentes presentes em determinados alimentos como moléculas estranhas, em especial as proteínas.
A partir daí, o sistema imunológico tenta combater essa suposta ameaça. E desse ataque desmedido surgem os sintomas.
Os sintomas da alergia alimentar podem surgir poucos minutos ou até algumas horas após a ingestão do alimento, podendo manifestar-se através da pele, do aparelho digestivo e do aparelho respiratório.
Os sinais e sintomas mais frequentes que podem ocorrer devido à alergia a um alimento são:
- Manchas avermelhadas, inchadas e espalhadas pelo corpo;
- Coceira generalizada;
- Vômitos e diarreia;
- Gases e cólicas;
- Inchaço da língua, lábios e cara;
- Tosse e chiado ao respirar;
- Dificuldade para respirar;
- Nariz escorrendo.
Em casos mais graves pode ocorrer choque anafilático, perda de consciência e até óbito. Por isso é muito importante ter atenção aos primeiros sinais, especialmente quando se introduz um novo alimento na dieta dos bebês e das crianças.
Infelizmente a alergia alimentar é mais comum em crianças e a sua prevalência parece ter aumentado nas últimas décadas em todo o mundo. Estima-se que a prevalência seja aproximadamente de 6% em menores de três anos, e de 3,5% em adultos1-2.
Infelizmente no Brasil, os dados sobre prevalência de alergia alimentar são escassos e limitados a grupos populacionais, o que dificulta uma avaliação mais próxima da realidade atual.
Nas crianças, as maiores hipersensibilidades acontecem frente ao consumo do leite de vaca, do ovo, da soja e do amendoim.
Nos adultos, as castanhas, os frutos do mar, o amendoim e os peixes são os alimentos que mais podem provocar a alergia alimentar.
A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é a mais comum entre as alergias alimentares na infância.
Embora deixem os pais “de cabelo em pé” pelo leite ser considerado um alimento de grande importância na alimentação infantil, a boa notícia é que o alimento costuma causar reações pouco severas e pode ser superada em boa parte dos casos até os cinco anos de idade.
Alergias ao amendoim, nozes e frutos do mar, por exemplo, costumam causar reações mais severas e que perduram mais.
Cerca de 50% das crianças com alergia à proteína do leite de vaca desenvolvem tolerância com um ano de idade e cerca de 75% até os três anos e 90% até completar seis anos, de acordo com um relatório publicado em 2012 pela European Society of Paediatric Gastroenterology Hepatology and Nutrition (ESPGHAN) 3.
Não se sabe ao certo porque os casos de alergia alimentar têm aumentado tanto em todo o mundo. Mas eu tenho um palpite!
Cada dia mais em nossa alimentação há a presença de alimentos industrializados e presença menor de alimentos naturais. Isso muda nossa microbiota intestinal, o que afeta diretamente o sistema imunológico.
Além disso, outros fatores estão relacionados ao número crescente:
- Maior contato com poluentes: devido à grande urbanização e industrialização na maioria das cidades.
- Menor exposição à alérgenos e micróbios: uma melhor higiene e o maior uso de antibióticos poderiam ser responsáveis por um sistema imunológico menos preparado e, portanto, mais suscetível às reações alérgicas.
- Prevalência de parto cesárea: crianças que nascem de parto normal entram em contato com as bactérias presentes no canal vaginal da mãe, que são importantes para fortalecer o sistema imunológico e ser a primeira proteção contra as alergias.
- Pré-disposição genética: filhos de pais alérgicos, têm mais chances de serem crianças alérgicas.
Com relação à prevenção da alergia alimentar, nas últimas décadas muito se vem discutindo sobre o assunto.
Porém, como vimos, as causas que levam ao aparecimento da doença são variadas, envolvendo desde fatores genéticos até ambientais. As evidências quanto às intervenções que possam reduzir o aparecimento da alergia alimentar ainda são insuficientes.
O que se sabe é que a amamentação exclusiva até os 6 meses constitui a ÚNICA medida comprovada cientificamente que pode diminuir as chances de se desenvolver alergia alimentar de acordo com o último Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar (ASBAI)4.
Pelo Consenso, não há evidências científicas de que restrições alimentares em gestantes e de que adiar a introdução de leite de vaca e dos alimentos sólidos estejam relacionados à diminuição do risco de desenvolver alergias alimentares.
Pelas sociedades científicas, a alimentação complementar deve ser feita a partir do 6º mês de vida, sem restrição na introdução de alimentos potencialmente alergênicos (como ovo, peixe e trigo), independente do risco familiar, mas com estímulo à continuidade da amamentação.
A atenção ao se introduzir um alimento novo é muito importante. Sugere-se introduzir novos alimentos com espaços de 3-5 dias para se observar possíveis reações alérgicas.
Contudo, para se diagnosticar a alergia alimentar, sempre é importante buscar auxílio profissional.
A investigação clínica deve ser minuciosa e buscar informações entre a ingestão dos alimentos e o aparecimento dos sintomas, os tipos de sintomas, a frequência da incidência dos sintomas, a idade de início das reações e assim por diante.
Após esta importante etapa, o profissional pode solicitar alguns exames laboratoriais específicos, e ainda realizar o Teste de Provocação Oral (TPO).
O teste consiste na oferta do alimento para o paciente em ambiente adequado e controlado, com total segurança e supervisão de um especialista para o caso de apresentar alguma reação.
Após o diagnóstico da alergia alimentar, alguns medicamentos podem ser prescritos pelo médico apenas para o tratamento dos sintomas em um momento de crise.
O mais importante é a exclusão do alimento causador das reações da dieta. Além disso, é crucial que essa informação seja repassada para todos os familiares, cuidadores e para a escola para segurança da criança.
No caso de bebês que ainda são amamentados, o alimento causador das crises de alergia também deve ser retirado da alimentação materna, a fim de se evitar que os componentes alergênicos sejam passados pelo leite materno.
As crianças com alergia alimentar podem ter uma vida relativamente normal, desde que haja a exclusão do alimento. Importante sempre consultar um profissional Nutricionista para que as trocas alimentares possam ser realizadas com êxito garantindo pleno desenvolvimento físico.
Além disso, o profissional pode auxiliar na leitura de rótulos dos alimentos industrializados buscando identificar nomes relacionados ao componente alergênico. Por exemplo, a presença de manteiga, soro, lactoalbumina ou caseinato apontam para a presença de leite de vaca e devem ser evitados por crianças com alergia ao alimento.
Busque auxílio profissional no menor indício de alergia alimentar para que sua família tenha uma alimentação saudável e segura!
Por Fabiana Jarussi
Capa: Canal L2
Referências bibliográficas:
1. Moore LE, Stewart PH, de Shazo RD. Food allergy: what we know now. The American Journal of the Medical Sciences. 2017;353(4):353-66.
2. Sicherer SH, Sampson HA. Food allergy: a review and update on epidemiology, pathogenesis, diagnosis, prevention, and management. Journal of Allergy and Clinical Immunology. 2018;141:41-58.
3. KOLETZKO, S. et al. Diagnostic approach and management of cow’s milk protein allergy in infants and children: ESPGHAN GI Committee pratical guidelines. Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition, v. 55, p. 221-229, 2012.
4. ASBAI – Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 – Parte 1 – Etiopatogenia, clínica e diagnóstico. Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Arq Asma Alerg Imunol. 2018a;2(1):7-38.