DIABETES NA INFÂNCIA: COMO CONVIVER COM SAÚDE

É muito comum os pais se assustarem ao receber o diagnóstico de diabetes em seus filhos. Ouço frequentemente ao acolher esses pais “Meu filho está condenado”, “Meu filho nunca mais poderá ir à festas”…

O que muitos desconhecem é que é plenamente possível conviver e se desenvolver com muita saúde mesmo com o diabetes na infância.

É claro que a doença exige adaptações de toda a família e cuidados específicos com os hábitos de vida, dentre eles a alimentação.

Atualmente, estima-se que a população mundial com diabetes é da ordem de 382 milhões de pessoas e que chegaremos ao assustador número de 471 milhões de diabéticos em 2035.

O Brasil ocupa o 4º lugar no ranking dos países com o maior número de casos, atrás apenas da China, Índia e Estados Unidos. Entre as crianças, o diabetes tem sido cada vez mais comum, crescendo entre a população até 5 anos, infelizmente.

Estima-se que 1 em cada 350 crianças de até 18 anos tenham diabetes, com surgimento de 132 mil novos casos da doença todos os anos em todo o mundo. No Brasil, faltam dados consistentes da prevalência da doença nas crianças.

Existem basicamente três tipos de diabetes.

O diabetes mellitus tipo 1 (DM1) é considerado uma doença autoimune, onde o sistema imunológico ataca equivocadamente as células beta do pâncreas e por consequência há uma interrupção na liberação de insulina para o corpo, desenvolvendo assim uma deficiência absoluta na produção de insulina.

Já o diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é quando o organismo não consegue usar adequadamente a insulina que produz; ou não produz insulina suficiente para controla a taxa de glicemia.

O terceiro tipo mais comum é o diabetes mellitus gestacional que é quando ocorre um aumento das taxas de glicose diagnosticado pela primeira vez no período gestacional (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES – SBD)

O DM1 concentra entre 5 e 10% do total de pessoas com a doença. Geralmente aparece na infância ou adolescência, mas pode ser diagnosticado em adultos também.

Mas como saber se meu filho(a) tem diabetes?

Através de exame de sangue! O diagnóstico é realizado medindo os níveis de glicose no sangue (glicemia) em jejum.

Nas crianças, a glicemia de jejum deve ser entre 70 a 99mg/dL, assim como nos adultos. Valores superiores a 126mg/dl devem ser investigados através de outros testes para se confirmar o diabetes infantil.

Continuar as investigações é importante para averiguar o tipo de diabetes e para descartar outras doenças que também causam hiperglicemia, como doenças hormonais, doenças associadas ao uso de certos tipos de medicamentos como antidepressivos, esteroides, diuréticos, etc.

Além das investigações sanguíneas, as crianças diabéticas costumam apresentar o quadro dos 3 Ps :

– Poliúria: urinar muito.

– Polidipsia: beber muita água.

– Perda de peso.

Assim, os pais devem estar atentos a todos os sinais. Uma vez recebi uma criança no consultório com diagnósticos de DM1 justamente após os pais perceberem que ela sentia muita sede e urinava muito, mesmo em dias mais frios. 

O diagnóstico foi certeiro aos 4 anos e essa criança hoje, já adolescente, tem uma vida relativamente normal e saudável.

Como todas as outras patologias, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para que o paciente conviva bem com a doença e tenha qualidade de vida.

Mas como deve ser o tratamento da criança com diabetes?

O tratamento tem como objetivo controlar os níveis metabólicos da glicemia e evitar complicações, tanto agudas como crônicas, que podem afetar o desenvolvimento da criança.

Tenho muitos pacientes infantis com diabetes e minha experiência mostra que no tratamento do diabetes é muito importante a educação e a conscientização da criança e de toda a família.

Sem o empenho e envolvimento familiar é praticamente impossível conseguir controlar a doença e evitar as complicações. A família deve conversar sobre a doença com a criança, explicando o que é, porque acontece e como pode ser controlada. Além disso, as mudanças de hábito de vida devem ser praticadas por todos os membros.

À medida que a criança vai crescendo, ela se torna mais independente e se ela tiver informações e educação adequada para o diabetes, terá uma vida praticamente que normal.

Existem três pilares fundamentais no tratamento do diabetes infantil:

– Insulina: para fornecer as doses adequadas deste hormônio que o corpo não pode produzir ou utilizar corretamente.

– Dieta: para evitar a sobrecarga do sistema insulínico, regulando a ingestão de carboidratos se necessário.

– Exercício: para aumentar a utilização de glicose por parte dos músculos e assim conseguir um equilíbrio entre o açúcar ingerido e o consumido pelo organismo.

Obviamente que o tratamento deve ser conduzido por uma equipe multidisciplinar competente, que engloba pediatra, nutricionista, endocrinologista, psicólogos, etc.

Além disso, todo o plano deve ser planejado de forma individualizada e para atender cada criança de forma específica, de acordo com sua rotina, hábitos de vida e condições clínicas.

Hoje, com o avanço das pesquisas e dos protocolos, a criança diabética convive muito com a doença, como já dito. Dentre os meus pacientes, tomando-se os devidos cuidados, todos eles têm um desenvolvimento físico, intelectual e social dentro do esperado e condizente às outras crianças.

O tratamento com a insulina evoluiu muito nos últimos anos. Além disso, a indústria farmacêutica dispõe de insulinas de vários tipos, com ações rápidas e lentas, que permitem um correto controle da doença e maior flexibilidade nas refeições.

Embora as crianças diabéticas possam ter uma rotina muito próxima à de crianças não diabéticas, sempre pontuo alguns cuidados:

1. Manter uma rotina alimentar

As crianças com diabetes devem se alimentar sempre próximo aos mesmos horários e evitar longos períodos sem se alimentar. Isso ajuda a criar uma rotina alimentar saudável e facilita a programação das aplicações de insulina.

2. Oferecer uma dieta adaptada:

Para auxiliar na adaptação da dieta da criança com diabetes, é importante fazer o acompanhamento com um Nutricionista. O profissional é capacitado para desenvolver um plano alimentar adequado com os alimentos que podem ser ingeridos com tranquilidade e aqueles que devem ser evitados.

3. Incentivar a prática de exercício físico

A prática de exercícios físicos ajuda a controlar os níveis de glicose no sangue e deve ser um complemento do tratamento para a diabetes na criança, por isso, os pais devem incentivar a realização destas atividades.

É importante manter uma rotina de exercícios que gere bem-estar na criança e que seja adequada para a idade, podendo ser futebol, dança ou natação, por exemplo.

4. Ter paciência e empatia

As picadas diárias para administrar insulina ou para fazer os testes de glicemia podem ser muito dolorosas para a criança e, por isso, é muito importante que a pessoa que vai dar a picada seja paciente, tenha carinho e explique o que irá fazer. Fazendo isto, a criança se sente valorizada e colabora melhor nos momentos das picadas, evitando estresse desnecessário.

5. Deixar a criança participar no tratamento

Escolher o dedo para a picada ou segurar na caneta de insulina, por exemplo, são ótimas alternativas para tornar o processo mais interessante. Também pode-se deixar a criança ver a caneta e fingir que vai aplicar em um boneco, contando para ela que muitas outras crianças também podem ter diabetes. Leveza é fundamental!

6. Informar a escola

Esse é um passo importantíssimo! Muitas crianças realizam refeições na escola e a instituição deve estar ciente da doença e dos controles que são necessários para a criança. Além disso, atividades educacionais sobre a doença podem ser feitas com toda a turma.

7. Não tratar a criança com diferença

A criança diabética deve ser tratada da mesma maneira que as outras: com carinho, paciência e respeito. Os cuidados são constantes, mas a criança deve ter liberdade para brincar e se divertir. Assim, não se sentirá pressionada ou culpada e poderá ter uma vida normal.

8. Controlar a ingestão de açúcar

Basicamente os pacientes diabéticos devem evitar ao máximo o açúcar, seja a adição aos pratos ou os alimentos açucarados, assim como alimentos fontes de carboidratos simples e de rápida absorção.

Contudo, dependendo do tratamento e controle utilizado, a alimentação torna-se mais flexível e próxima aos padrões “normais”. Para isso, é imprescindível o acompanhamento de um Nutricionista.

9. Ingerir alimentos ricos fibras

As fibras reduzem a velocidade de absorção da glicose no sangue, após o alimento ser digerido. Assim, seu consumo auxilia a manter a glicemia em valores mais baixos após as refeições, diminuindo os picos glicêmicos pós-prandial. 

Cabe aqui ressaltar, que o açúcar na alimentação não é saudável para ninguém, mesmo para os indivíduos não diabéticos, independente de sua idade.

Além disso, a indústria alimentícia evoluiu muito também, acompanhando a ciência. Hoje temos à disposição uma grande quantidade de açúcares que não alteram a glicemia, assim como alimentos prontos.

A criança diabética, assim como todas as outras, deve receber uma alimentação de qualidade, baseada em alimentos frescos, naturais e integrais. Comida de verdade, onde descascamos mais e desembalamos menos.

A prevenção pode ser a chave para o aparecimento de diabetes nas crianças. Investigações primárias apontam que o estímulo ao aleitamento materno e evitar a administração do leite de vaca nos primeiros 3 meses de vida trazem resultados efetivos.

De qualquer forma, a informação é a arma mais eficaz quando falarmos de saúde e alimentação. Não deixe de consultar um Nutricionista em qualquer ocasião que seja necessária uma mudança alimentar!

E lembre-se: a criança diabética tem tanta liberdade de escolha alimentar como uma criança não diabética.

Abaixo apresento uma receita que pode ser apreciada por todas. Hoje, mais do que nunca, inclusão é a palavra!

A receita é refrescante e ideal para o verão! Rica em vitamina C, carotenoides e fibras.

SORBET DE MANGA:

Sorbet de Manga

Ingredientes:

2 mangas bem maduras tipo palmer

Caldo de ½ limão

Modo de preparo:

Descasque e corte as mangas em pedaços médios. Transfira para uma assadeira e leve ao congelador – evite amontoar os pedaços, assim eles ficam soltos depois de congelados. Deixe por pelo menos 4 horas até congelar (se preferir, congele na noite anterior ao preparo).

Retire a manga do congelador e deixe em temperatura ambiente por 10 minutos antes de bater.

Coloque os pedaços de manga congelados no processador, junte o caldo de limão e comece a bater no modo pulsar para triturar os pedaços da fruta. Continue batendo em velocidade alta até ficar bem cremoso com a consistência de sorvete, por cerca de 10 minutos – na metade do tempo, pare de bater e misture os pedaços com uma espátula para bater por igual.

Sirva na sequência!

Por Fabiana Jarussi

Nutricionista – CRN 11217

Capa: Keyla Gomes

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