Estamos chegando próximo ao Natal, mais um ano termina e outro vai ser iniciado e quando converso com as crianças sobre esse momento e as questiono, a grande maioria delas, me fala sobre os presentes que irão ganhar.
Algumas tem listas imensas de presentes que ganharão dos pais, dos tios, dos avós e do Papai Noel, inclusive já determinando quais presentes querem ganhar e o que farão com o dinheiro que ganharem em forma de presente.
De antemão, gostaria de deixar claro, que com esse texto, não tenho a pretensão de sugerir que os presentes não sejam dados. Quero apenas refletir sobre o real sentido do ato de presentear e o que pode haver de consequência, quando tal atitude é excessiva.
Acompanho no dia-a-dia das crianças, que o consumo e o ato de ganhar presentes, não está tão mais associado àquele ato especial e que acontecia em ocasiões repletas de sentido.
Hoje, ganha-se presentes por tudo! Em uma simples entrada na padaria, a criança muitas vezes, já sai com um brinquedo. Quando entra em uma loja de brinquedos, shopping e até mesmo supermercado, pode ser ainda mais desafiador para os pais a negação.
Quais as consequências disso? Será que é mesmo assim tão ruim? Mas se eu posso dar e enquanto criança eu não tinha essas oportunidades, porque não posso oferecer ao meu filho (a)?
Vamos refletir um pouco sobre isso!
Imagine um prato que você goste muito…imaginou? Agora imagine você comendo esse prato todos os dias ou pelo menos umas quatro vezes na semana…imaginou? Quais as duas sensações?
Acredito que na segunda situação, o seu prato deixaria de ser novidade e você poderia até mesmo enjoar de ter que comê-lo não é mesmo?
Só que crianças não enjoam de presentes e muito pelo contrário, elas irão querer sempre mais, quase como se aquilo fosse uma rotina, como se ganhar algo fosse comum.
E ainda pior: ao ganhar algo e sentir o prazer por estar recebendo aquele presente, os centros de prazer do cérebro são ativados e temos a liberação de dopamina.
A Dopamina é o mesmo neurotransmissor que é liberado diante do uso de drogas ou álcool por exemplo, então, percebam como pode ser viciante o simples ato de ganhar a cada entrada em algum lugar um presente.
Além disso, ao deixar de ser novidade, a valorização da criança sobre o que recebeu, também tende a diminuir, portanto, a tendência a curtir de fato o que ganhou e brincar com aquele presente é bastante reduzida.
Não dá para algo cotidiano ser tão valorizado como uma novidade, não é mesmo?
Com a compreensão de tudo isso, vamos voltar à questão do Natal e da quantidade muito grande de presentes lá de cima que comecei o texto refletindo com vocês.
Percebem agora como pode ser nocivo para as crianças e adolescentes essa situação?
Sem contar que quando tenho tudo o que quero, de que maneira irei exercitar a minha frustração por não conseguir algo?
Se sempre recebo um sim, como será a minha reação ao ouvir um não?
Portanto, presentes são de fato presentes. Algo que deve ser guardado para ocasiões super especiais, como aniversários, dia das crianças ou natal ou em datas especiais para a criança e para a família.
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Para que sejam curtidos, valorizados, realmente fazerem sentido!
No dia-a-dia, podemos criar e reciclar, usar a criatividade para construir junto com a criança brinquedos de sucatas, jardinagem, pinturas. Algo que de fato faça sentido para ela!
Dia desses ao perguntar para uma menina que atendo a razão pela qual ela havia escolhido aquele presente para ganhar da mãe, ela me respondeu da seguinte forma: “toda hora passa no comercial, então é melhor ter mesmo né?”
Deixo a minha surpresa e a minha consternação diante desse comentário, pois penso que a criança não precisa ter as coisas simplesmente por ver muito na TV, por todos os seus amigos terem.
Ela deve ter algo que de fato, faça sentido para ela!!
Vamos seguir algumas dicas que podemos adotar para não estimularmos esse consumismo e fortalecermos a noção de valorização das conquistas?
– Combine com a presença e participação da criança em quais datas ela irá ganhar presentes mais significativos. Deixe com que ela participe desse momento de escolhas;
– Ao viajar, não prometa presentes no retorno. Seja você o próprio presente do retorno para as crianças. Muitos pais pela culpa da ausência prometem os presentes. Tudo bem trazer lembranças se as viagens forem esporádicas, mas se você viaja muito, pode ser complicado e o presente poderá ter mais valor que sua chegada;
– Se a criança quiser algo de muito valor, combine com ela previamente por quais datas o presente irá valer. Quais serão as possibilidades e não tenha medo de falar não se de fato não puder. Essa situação irá se converter em uma ótima oportunidade de lidar com a frustração;
– Faça rodízio dos brinquedos da criança: guarde alguns por um período e depois troque. Com crianças menores, isso fará com que pareça que a criança sempre tem brinquedos novos;
– Procure não atender os pedidos de presentes imediatamente e não entregue antes da data. Aproveite a oportunidade para exercitar a paciência da criança e não colabore para o aumento da ansiedade;
– Ao não aceitar os pedidos prontamente, você também poderá trabalhar com a criança se de fato ela precisa do presente ou se ela apenas quer o presente. O que de fato está envolvido…e se ela quiser, o porque desse querer. Pela TV, pelo amigo ou por ela?
– Utilize mesadas ou semanadas com as crianças maiores e os adolescentes para que possam colaborar na aquisição de presentes caros com uma parte do dinheiro ou mesmo para que possam conseguir comprar o que desejam com seu dinheiro, o que aumenta muito a valorização das conquistas;
– Sempre que possível, estimule a realização dos próprios presentes com as crianças e adolescentes: crie, reutilize e invente junto com a criança!
E para o Natal, é sempre bom lembrar que é uma data para estar com quem amamos, para celebrar a vida, o amor e a paz, independente de qualquer religião. Muito mais que presentes, importam as pessoas!
Desejo que seus maiores presentes para as pessoas que ama sejam seu afeto, sua presença, seu abraço e seu amor! Muitos abraços, beijos e momentos especiais perto de quem ama…esses são os melhores presentes que você pode dar para sua criança ou adolescente!
Memórias afetivas recheadas de lembranças boas do que de fato importa na vida: SER muito mais do que TER!!
Que o Natal seja iluminado e abençoado e que 2020 seja repleto de tantas memórias e aprendizados! Conquistas e muito amor!
Obrigada pela parceria nas leituras do ano todo e sigamos juntos para mais descobertas!!
Capa: FreePik
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