O Autismo é um distúrbio do desenvolvimento humano que vem sendo estudado pela ciência há quase 6 décadas. No entanto, ainda permanecem, dentro do próprio âmbito da ciência, divergências e grandes questões a responder.
Atualmente, embora o Transtorno do Espectro Autista – TEA seja bem mais conhecido, tendo inclusive sido tema de vários filmes e séries de sucesso, ele ainda surpreende pela diversidade de características que pode apresentar e pelo fato de, na maioria das vezes, o indivíduo que tem autismo ter uma aparência totalmente normal.
Ultimamente não só vem aumentando o número de diagnósticos, como também estes vêm sendo realizados cada vez mais precocemente.
Suas questões fundamentais como o déficit na interação social e os interesses restritos e persistentes, vem sendo cada vez reconhecidas com mais facilidade por um número maior de pessoas.
Autismo no Censo 2020: O que muda?
Provavelmente, a este fato, o autismo passou mundialmente de um fenômeno raro para um muito mais comum do que se pensavam chegando à proporção atual de 1:59 pessoas (dados de incidência variam de acordo com o estudo de localidade e abrangência)
O autismo intriga e angustia as famílias e os profissionais, isto acontece, devido as pessoas portadoras do TEA, geralmente apresenta uma aparência harmoniosa e ao mesmo tempo um perfil neurocomportamental com desenvolvimento irregular, com bom funcionamento das habilidades e às vezes até extraordinário algumas áreas, enquanto outras se encontram bastante comprometidas.
O DI – Deficiência Intelectual a criança apresenta um desenvolvimento global uniformemente defasado, enquanto que no TEA o perfil de desenvolvimento é irregular e pode ser desafiadoramente irregular, deixando os pais, professores, profissionais e muitos outros à volta, perplexos.
O trecho do Artigo de Hans Asperger que descreve Fritz V. na época 6 anos, ilustra bem tal irregularidade:
“Ele aprendeu rotinas práticas do cotidiano muito tarde e com grande dificuldade… em compensação, ele aprendeu a falar muito cedo e falou sua primeira palavra com 10 meses, bem antes de poder andar. Ele rapidamente aprendeu a se expressar com frases e logo falou como um adulto… Desde cedo Fritz nunca fez o que lhe era pedido.
Ele sempre foi agitado e irrequieto, e tendia a agarrar tudo o que estava ao seu alcance. Proibições não o detinham. Uma vez que ele tinha um impulso destrutivo anunciado, qualquer coisa que caia em sua mão era logo rasgada ou quebrada”.
Em termos de gravidade, hoje o TEA, pelo DSM-5 (manual internacional de critérios diagnósticos) possui três níveis de comprometimento I, II e III, leve, moderado e severo respectivamente.
Gostaria de trazer, hoje, algumas informações sobre o Nível I, também chamado de leve, onde se encaixam atualmente, os anteriores termos, Síndrome de Asperger ou Autismo de alto funcionamento.
O Autismo de alto funcionamento é um termo informal usado para caracterizar aqueles indivíduos dentro do espectro com maiores habilidades e funcionalidades em realizar atividades do dia a dia como:
- interagir e se comunicar com outras pessoas;
- realizar atividades de leitura e escrita;
- falar, autonomia para AVD´s,
- são capazes de resolver alguns problemas, elevada habilidade visual e grafo motora;
- podem aprender uma profissão e namorar,
- entre outros.
Apesar da maior autonomia e desenvoltura podem apresentar sintomas de disfunções no processamento sensorial, crises ansiosas, tiques comportamentais, pensamentos obsessivos, depressão e em casos mais graves ideação de morte e tentativas de suicídio.
As crianças e adolescentes com grau leve de autismo e principalmente as que possuem inteligência preservada, podem se apresentar como neurotípicas, e o mais provável é receberem um diagnóstico errado, quando não passam despercebidas ganhando cruelmente o título de estranhas, esquisito ou excêntrico.
Normalmente essas pessoas desejam estar envolvidas no convívio social, mas sentem muitas dificuldades:
- Não sabem como iniciar uma conversa ou manter um diálogo.
- Entender macroemoções ou emoções mais complexas como ciúmes e inveja.
- Encontram dificuldades em fazer a interpretação das expressões faciais ou linguagem corporal – não verbal.
- Também sentem dificuldades para se ajustarem a novas rotinas ou experiências.
- Alguns saem muito bem na escola enquanto outros apresentam constantes crises de sobrecarga sensorial (excesso de estimulação dos órgãos dos sentidos) fazendo com que eles percam a concentração e apresentem sensações de peso na cabeça e fadiga no corpo (Crises| birras).
- Podem ter dificuldades para controlar suas emoções principalmente a raiva, irritando se facilmente com coisas que podem parecer mínimas.
- Podem se tornar petulantes e insistentes ao iniciarem algum assunto que seja de seu domínio ou faça parte de um hiperfoco. Utilizarem – se de muitos argumentos técnicos e dados científicos, além de um vocabulário bem rebuscado.
- Podem ter hiperfoco que podem se confundir com colecionismo como ter muitos livros sobre um dado assunto, colecionar cds, filmes, carrinhos, ferramentas entre outros.
- No ambiente social como escola ou trabalho podem ser taxados como “mal educados” por não cumprimentar ninguém, ser de poucas e secas palavras, muito sinceros e diretos, não fazerem contato visual ou evitar contato físico, não enturmar na hora do lanche e ser muito rígido com os horários e rotinas.
- Apelar com brincadeiras ou não ver graça em piadas.
- Serem seletivos com alimentos, recusando a experimentar muitas comidas, a eles oferecidas, não aceitar comer em pratos, copos ou talheres que foram utilizados por outras pessoas.
- Dificuldades na organização e planejamento da execução de tarefas.
- Fala monocórdica e com falha na prosódia. Também é comum acharem graça de coisas que outras pessoas não acham, soltando gargalhadas descontextualizadas ou “fora de hora”.
Portanto, não importa o nível do TEA para serem tratados e respeitados em sua singularidade.
Dentro do espectro todos são autistas e em maior ou menor grau irão enfrentar desajustes que demandarão de mais ou menos apoio, mais ou menos intervenções.
Mas, que sempre trará para suas cabeças e emoções situações embaraçosas que os farão sofrer e se retraírem quando não assistidos devidamente.
Resultando em possível comportamento de isolamento e comorbidades com transtornos mentais psiquiátricos.
É preciso compreender para ajudar.
Por Aline Oliveira
Para aprofundar no assunto pela Internet:
www.cronicaautista.blogger.com.br
www.grupo.com.br|grupo|asperger
Referência Bibliográfica:
Mello, Ana Maria S. Ros de, Autismo: guia prático. 6 edição. São Paulo: AMA. Brasília: CORDE, 2007.
Abreu, Tiago, Orgulho e ferramentas de compensação. Revista Autismo, São Paulo, 2019, n.6, pg 20 novembro de 2019.
Norberto, Susu. Blog Inocência Autista. 2019
Gostei muito do artigo. Extremamente direto e elucidativo! Grata pelos esclarecimentos, Dra.
Larissa, obrigada pelo feedback!
continue nos acompanhando! Abraços!