Vou começar este texto com essa frase como um pedido de alerta para pais e professores. “A depressão atinge 8 milhões de crianças no Brasil”*.
Muitos adultos ainda alimentam a crença de que a criança não fica triste, não se preocupa com nada e nem tem motivos para reclamar da vida, sendo assim, não conversam sobre esses assuntos acreditando ser uma realidade muito longe. Outros acreditam que, pela baixa frequência da depressão infantil, não ser importante falar sobre o assunto.
A realidade é que a depressão não escolhe idade, sendo de maior ou menor frequência, ela existe e pode atingir crianças entre 6 e 12 anos. A nível de curiosidade, seu diagnóstico pode ser efetuado a partir dos 3 anos de idade.
Isso mesmo, você não leu errado: o diagnóstico da depressão pode ser realizado a partir dos 3 anos de idade.
Na tão doce e ‘feliz’ primeira infância, a criança pode apresentar sinais de que algo não está equilibrado em sua vida. Como isso ocorre? Como conseguir identificar, numa criança de 3 anos, sinais da depressão? Por ter uma intensidade menor, a depressão na primeira infância é mais branda. Os casos, geralmente, não chegam ao seu auge. Entretanto, merecem uma atenção especial por levar um sofrimento precoce à criança.
De acordo com o psicólogo Henry Wallon, a criança se desenvolve a partir de etapas, que correspondem as seguintes idades: 0 a 1 ano – impulsivo-emocional; 1 a 3 anos – sensório-motor e projetivo e 3 a 6 anos – personalismo.
Nestas fases há uma predominância ora afetiva ora cognitiva que atua diretamente no desenvolvimento da criança.
Na etapa que corresponde ao 3º ano de vida, chamado Sensório-motor e Projetivo, a criança tem uma predominância cognitiva, que lhe oferece uma abertura para o desenvolvimento da inteligência e também de sua dimensão social. Esta última correspondendo ao seu salto maior de crescimento, onde se apresenta a fala, os questionamentos e a visão de si mesma diante do mundo e do outro.
Durante o seu processo de desenvolvimento, a criança que antes se situava no ambiente através dos outros, tenta, por ela mesma, se situar. Ela capta todas as mensagens ao seu redor e tenta absorver o que acredita que lhe ajudará a entender o mundo que a cerca.
Claro que, pela pouca idade, a noção do todo ainda está deturpada, entretanto, na sua tentativa de entender o mundo e também de se localizar como indivíduo, essa mesma tentativa pode distorcer a realidade – levando em consideração também todo o aparato imaginativo que rodeia a mente de uma criança de 3 anos. Ela ainda está sob efeito do outro, mas tentará sempre tirar suas próprias conclusões dos acontecimentos que vivenciar.
Depressão Infantil: Precisamos sobre
Quando se pensa em depressão com tão pouca idade, é preciso desmitificar a ideia de que a depressão só ocorra em pessoas que vivem em ambientes vulneráveis ou com problemas “reais”.
Precisamos lembrar que há uma pequena parcela de depressão que se origina de forma hereditária, sendo assim, não há como descartar a possibilidade de uma criança pequena desenvolver os sintomas quando há casos semelhantes na família.
Mas sem criar muitos alardes, os sintomas, quando bem observados e acolhidos, oferecem aos pais e professores uma chance de rever as próprias atitudes e manejos. São eles: isolamento, choro excessivo seguido de isolamento, falta de apetite e, a principal, uma falta de iniciativa/vontade para brincar, sair de casa ou fazer algo que seria extremamente divertido.
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