A alfabetização e o letramento devem estar presentes na educação infantil, segundo Soares (2000), tanto atividades de introdução da criança ao sistema alfabético e suas convenções − alfabetização − quanto às práticas de uso social da leitura e da escrita – letramento.
As crianças convivem com a escrita, umas mais, outras menos, muito antes de chegar ao ensino fundamental e antes mesmo de chegar a instituições de educação infantil em contextos social e familiar, pois há um tempo, dizia-se que as crianças menores de 7 anos não poderiam conviver com o letramento e alfabetização, que antes dessa idade, era apenas o “cuidar”.
Nessa convivência com a escrita, elas vão construindo sua alfabetização e seu letramento: seu conceito de língua escrita, das funções do ler e do escrever; seu conhecimento de letras e números; as histórias que lhes são lidas em um livro, em uma revista, os bilhetes que as pessoas escrevem ou leem, entre outros.
Além de conceitos e conhecimentos, as crianças também construirão, em seu contexto social e familiar, o interesse pela leitura e pela escrita, bem como o desejo de acesso ao mundo da escrita.
Atividades bastante comuns na educação infantil, como, por exemplo, os rabiscos, os desenhos, os jogos, as brincadeiras de faz de conta, não são consideradas atividades de alfabetização, quando representam, na verdade, a fase inicial da aprendizagem da língua escrita, descobrindo os sistemas de representação, facilitando a compreensão da língua escrita.
A importância de Literatura na Educação Infantil
Essa fase é considerada por Vygotsky (1984) a pré-história da escrita, explica porque a criança pequena supõe estar escrevendo quando está desenhando ou quando está fazendo rabiscos, nesse caso muitas vezes tentando imitar a escrita cursiva dos adultos, o que já representa um avanço em seu processo de alfabetização.
Segundo Soares (2000) algumas pesquisas e observações em instituições de educação infantil, comprovam que as crianças de 4 e 5 anos, com poucas exceções, evoluem rapidamente em direção ao nível alfabético se são orientadas e incentivadas por meio de atividades adequadas e sempre lúdicas.
Algumas características são próprias e necessárias da/na educação infantil, como a escrita espontânea; observação da escrita do adulto; familiarização com as letras do alfabeto; contato frequente com a escrita de palavras conhecidas e sempre em um ambiente no qual estejam rodeadas de escrita com diferentes funções: calendário, lista de chamada, rotina do dia, etc.
Mesmo atividades muito presentes na educação infantil, consideradas apenas por sua natureza lúdica como: a repetição de parlendas, a brincadeira com frases e versos trava-línguas, as cantigas de roda, a memorização de poemas entre outros, são passos em direção à alfabetização, pois se forem orientadas nesse sentido, desenvolverão a consciência fonológica, aspecto fundamental para a compreensão do princípio alfabético.
Para Soares (2000) a leitura frequente de histórias para crianças é a principal e indispensável atividade de letramento na educação infantil. Essa atividade pode conduzir a criança, desde muito pequena, a conhecimentos e habilidades fundamentais para a sua inserção no mundo da escrita.
Por um lado, esta é uma atividade que leva a criança a familiarizar-se com a materialidade do texto escrito: conhecer o livro; descobrir que as páginas são folheadas da direita para a esquerda; que os textos são lidos da esquerda para a direita e de cima para baixo; que os livros têm autor, ilustrador, editor, tem capa, entre outros.
Por outro lado, a leitura de histórias é uma atividade que enriquece o vocabulário da criança e proporciona o desenvolvimento de habilidades de compreensão de textos escritos e de estabelecimento de relações entre fatos. Tais habilidades serão transferidas posteriormente para a leitura independente, quando a criança tornar-se apta a realizá-la.
Também é importante que outros gêneros textuais também sejam lidos para as crianças, como os textos informativos, publicitários, jornalísticos, histórias em quadrinhos, etc. Na educação infantil, a criança pode e deve ser introduzida a diferentes gêneros textuais. Além disso, pode-se levá-la a identificar o objetivo de cada gênero, o leitor a que se destina o modo específico de ler cada gênero.
As atividades de letramento com a escrita podem e devem também ter presença na educação infantil. A todo o momento, surgem oportunidades de registrar algo, como: apoio à memória, de construir com o adulto um texto coletivo, um cartaz sobre um trabalho desenvolvido.
Enfim, são inúmeras as situações que podem ser aproveitadas para que as crianças percebam a função da escrita para fins diversos e a utilizem em práticas de interação social.
Segundo Soares (2000) embora as atividades de alfabetização e letramento diferenciem-se em alguns aspectos, essas atividades devem desenvolver-se de forma integrada. Caso sejam desenvolvidas separadamente, a criança certamente terá uma visão parcial e, portanto, distorcida do mundo da escrita.
A base será o letramento, pois a leitura e escrita são meios de comunicação e interação e a alfabetização deve ser vista pela criança como instrumento para envolver-se nas práticas e usos da língua escrita. Assim, a história lida pode gerar várias atividades de escrita, como pode provocar uma curiosidade que leve à busca de informações em outras fontes, frases ou palavras da história podem vir a ser objeto de atividades de alfabetização.
O essencial é que as crianças estejam em um contexto letrado e que nesse contexto sejam aproveitadas, de maneira planejada, todas as oportunidades para dar continuidade aos processos de alfabetização e letramento que elas já vinham vivenciando antes de chegar à instituição de educação infantil.
Soares (2000) diz que a literatura dá um apoio muito forte a esse letramento. Pois o letramento são as práticas de leitura e de escrita. Uma coisa é aprender sistema de escrita, para ler e escrever. Mas isso não resolve o problema da entrada no mundo da escrita.
É preciso saber fazer uso disso, saber escrever uma carta, saber escrever uma história, saber escrever uma fábula, um convite, etc. Mas fazer isso numa situação contextualizada, saber para quem eu estou escrevendo, porque estou escrevendo, tendo motivação para escrever.
Por isso, o papel do professor, da escola, é criar essas situações que permitam esse desenvolvimento da alfabetização e do letramento articulados e, ao mesmo tempo, indissociáveis. Propiciando, antes de tudo, um ambiente de letramento, que desperte a curiosidade, o interesse dos alunos para o processo de ensino-aprendizagem.
Depois trabalhar as diversas linguagens, ter dinâmicas e domínio daquilo que está fazendo, o objetivo de tudo é expor isso ao educando para que ele entenda o que e o porquê daquilo que está realizando.
Por Érica Lacerda
SOARES, M. B. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 3ª ed. Brasileira, Martins Fontes, 1984.