Qual é o papel da visão no desenvolvimento das crianças?
Nosso corpo é um grande receptor de estímulos sensoriais do ambiente em que vivemos. Percebemos o mundo através dos cinco sentidos que aprendemos desde cedo, na escola. Vale ressaltar que existem mais 2, o equilíbrio e a propriocepção, que assim como os demais, influenciam no nosso desenvolvimento.
Todos os nossos sentidos se inter-relacionam e a visão é extremamente importante para a aquisição de informações para o nosso corpo. Ela é um canal de relacionamento entre o sujeito e o meio. Qualquer alteração visual pode prejudicar o desenvolvimento motor, de linguagem (aprendemos pela imitação) e também aspectos relacionais (socialização) e emocionais
No final do primeiro trimestre de gestação, o bebê já possui todas as estruturas oculares formadas. Mas, isso não significa que ele já nasce enxergando tudo. Pelo contrário! Assim como aprender a se movimentar, a criança precisa aprender a ver. Nos primeiros meses, a criança tem uma visão bastante embaçada, sem foco e distinção de cores. Ela percebe apenas a luz ou movimentos.
Então, além de estímulos motores para adquirir novas posturas, o bebê também necessita de estímulos visuais, ou seja, luz, cores, movimentos. Até os 6 meses de vida, a visão se desenvolve rapidamente, mas somente aos 5 anos é que ela estará próxima da visão de um adulto.
Dor de Crescimento… Será que existe?
É essencial uma consulta com um oftalmopediatra logo nos primeiros 6 meses de vida. Muitos problemas da visão são tratáveis e até possíveis de se prevenir. Quanto mais cedo iniciar-se um tratamento, maiores serão as chances de sucesso.
Nos primeiros 3 meses de vida, o bebê aprende a fixar os olhos em determinado objeto ou pessoa e consegue fazer o rastreio visual, ou seja, seguir com os olhos. Primeiro aprende na horizontal e depois na vertical. No início, a esfera visual, ou seja, a distância entre os olhos e o objeto, é pequena, geralmente 20-30 cm. Com o tempo, vai se ampliando. Os bebês têm preferência por cores mais vivas e contrastantes como preto, branco e vermelho.
A partir dos 4 meses, em média, inicia-se o desenvolvimento da coordenação visomotora, que é a habilidade de sincronizar olhos e mãos. Essa habilidade é fundamental na nossa vida, como por exemplo na leitura e escrita. Crianças com déficit nessa coordenação também terão atrasos nas aquisições motoras que envolvem o controle de movimentos e o equilíbrio do corpo.
Com a coordenação visomotora, a criança é capaz de explorar os brinquedos, tentar alcançar algo, seja apenas esticando seus braços, ou rolando, sentando, engatinhando e andando.
Com a visão, a criança aprende a se orientar no espaço e a criar memórias visuais que vão facilitar o seu deslocamento. Um exemplo disso é um sofá em determinado lugar. No início, a criança esbarra, seja engatinhando ou andando. Com o tempo, ela aprende que existe uma barreira naquele local e consegue desviar.
A criança que nasce cega ou com alterações na visão, não terá memórias visuais. Portanto, precisará criar outras estratégias para conseguir sua independência motora, utilizando os demais sentidos, como tato, audição, o sistema vestibular e proprioceptivo.
Infelizmente, não temos a cultura da prevenção. Apenas quando chegam no ensino fundamental e, principalmente na fase de alfabetização, que as crianças são encaminhadas para um exame oftalmológico. É comum quando os professores percebem alguma dificuldade na aprendizagem que pode estar diretamente relacionada à visão.
Porém, muito antes disso já é possível perceber algumas alterações. Os pais e cuidadores precisam estar atentos a alguns sinais, além de promover os estímulos adequados para o desenvolvimento global da criança, incluindo a visão.
As oscilações involuntárias de um olho ou de ambos são normais até 3-4 meses. Após essa idade, consulte um oftalmopediatra. Observe também se a criança tem interesse em observar o local onde está, os objetos e pessoas próximas.
Outros sinais que merecem atenção especial são: piscar com frequência, coçar os olhos repetidamente, lacrimejamento constante, pequenas manchas brancas nos olhos, além do estrabismo e movimentos compensatórios de cabeça para enxergar.
Bebês prematuros, que necessitaram de internação em uma UTI neonatal merecem atenção redobrada. Além do atraso no desenvolvimento psicomotor e visual, provocados pelo tempo de internação, há também maior risco de desenvolver a retinopatia da prematuridade, que pode levar à cegueira total. Como a criança nasceu antes do tempo, os vasos sanguíneos que irrigam os olhos podem crescer de forma desordenada.
No próximo texto, vamos falar como estimular a visão da criança brincando. Até lá!
Por Fernanda Alves
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