No texto sobre as birras, em uma das dicas, sobre como podemos agir para acalmar as crianças durante o descontrole, sugerir levar a criança para um cantinho da calma.
O Cantinho da Calma ganhou mais visibilidade durante o início de Fevereiro, quando a Duquesa da família real britânica, Kate Middleton, em entrevista a uma revista, relatou utilizar o mesmo com seus filhos.
O cantinho da calma é uma opção dentro da Disciplina Positiva para que a criança consiga aprender autorregulação e possa desenvolver autonomia e independência em relação ao controle de suas emoções.
Vamos explicar aqui como realizar em conjunto com a criança esse cantinho e o que pode estar nele, além de falar um pouco sobre a sua função.
Ele não tem a função punitiva, mas possibilita o aprendizado de funções muito importantes do controle inibitório (nosso sistema de controle dos nossos impulsos dentro do cérebro), como autocontrole, autorregulação das emoções, resolução de problemas e autonomia.
Outras funções das habilidades sociais também são trabalhadas com esse exercício para a criança, como a empatia (nossa capacidade de se colocar no lugar do outro), civilidade, assertividade e valores, como tratar as pessoas com respeito, por exemplo.
Ele pode ser construído em casa ou na escola e é necessário um nome para o local que não precisa ser “Cantinho da Calma”. O nome a ser dado deverá ser construído em conjunto com a família, os professores e a criança.
O adulto pode fazer sugestões, mas quanto mais a criança colaborar e sentir que ela participou da construção e das escolhas sobre o cantinho, mais ela terá chances de colaborar e utilizar o cantinho em momentos de descontrole, portanto, a sugestão é que a própria criança escolha um nome que faça sentido para ela.
É muito melhor que a construção do cantinho ocorra em um momento em que a criança esteja colaborativa e tranquila e o adulto que irá auxiliá-la também. Querer construir o cantinho da calma quando a criança está com raiva ou muito irritada, cansada ou com sono, possivelmente não irá funcionar.
Combine previamente com a criança durante a construção do local que ele poderá ser utilizado quando ela estiver com muita raiva, irritada, precisando se acalmar ou até mesmo em momentos de tristeza e nos quais ela precisar estar sozinha por um período.
Deixe acertado com a criança que essa condução que você fará dela para o cantinho da calma, será de forma tranquila, pegando na mão dela e sugerindo que ela vá até esse local para que possa se acalmar.
Utilize perguntas com a criança quando perceber que o descontrole está começando para guiá-la ao cantinho, como “Você gostaria de ir para o cantinho da calma (utilize o nome que criaram) para se acalmar e a gente poder conversar?”
Nunca leve a criança para o local de forma agressiva, com gritos, descontrole de sua parte, arrastando, agredindo. Além de perder totalmente o efeito do local, você estará contribuindo para intensificar ainda mais o quadro do descontrole da criança.
Organize esse cantinho com objetos que a criança possa escolher e que ela, em conjunto com seu direcionamento, perceba que podem auxiliá-la a ficar mais calma, como almofadas, bichinhos de pelúcia, lápis e papel para rabiscar, bolinhas de massagem para apertar, massinha de modelar, slime, tintas etc.
Outro objeto que funciona muito bem para regular a respiração que é parte muito importante na autorregulação e no processo do acalmar-se para a criança, pode ser algo para fazer bolinhas de sabão ou bexigas para encher (caso a criança tenha idade para tal).
Enfeite o local de acordo com a criatividade da criança, crie um nome e deixe esse local permanentemente montado em algum espaço da casa de fácil acesso e que possa ser escolhido em conjunto com a criança e com o direcionamento do adulto.
Importante lembrar que locais em que a criança possa sentir medo em ficar, como locais escuros, solitários demais ou com barulho muito fortes, não são boas opções, pois podem tornar a prática do cantinho da calma aversiva para a criança.
É muito indicado também que o adulto tenha seu “Cantinho da Calma” com objetos que possam lhe trazer a tranquilidade e que a criança veja o adulto se dirigindo até o local em momentos de descontrole.
O adulto pode usar o local, inclusive, quando a criança estiver descontrolada, dizendo que não gostaria de conversar com ela daquela forma, que o descontrole da criança o está deixando muito irritado e que ele precisa se acalmar e dirigir –se ao seu cantinho da calma.
Procure também colocar em seu cantinho, objetos como livros, almofadas e outros itens que possam ter a função de acalmar e de tranquilizar. Através dos neurônios espelho, você pode conduzir a criança a se acalmar com sua calma.
No começo a criança poderá resistir em ir para o Cantinho, mas à medida que ela se habituar e perceber que o adulto também está dando o exemplo e utilizando o cantinho construído para ele, a tendência é que ela também passe a utilizar o cantinho com mais regularidade e sem tanta resistência.
Em minha prática clínica, tenho casos em que a própria criança ao observar o descontrole dos pais, depois de um tempo de prática, acabam sugerindo a eles, que talvez seja melhor que eles possam ir ao cantinho deles para se acalmar. Tive situações com crianças que fizeram tal oferta para os avós.
Se no início a criança não quiser se dirigir ao cantinho da calma, ofereça de forma respeitosa, mas não conduza de forma agressiva e apenas seja você mesmo o próprio exemplo.
Vá você até o seu cantinho e permita que a criança através do seu próprio modelo consiga perceber os benefícios da prática, até que ela mesma queira incluir em seu dia-a-dia de forma espontânea.
Em caso de irmãos, o cantinho pode ser o mesmo para os dois ou eles podem ter o seu espaço de forma individual. Depende do que você perceber que eles preferem ou que você pense ser mais efetivo em sua família.
Se a opção for para que o cantinho seja em conjunto, procure permitir que eles escolham objetos individualizados, que ambos possam sugerir, pois muitas vezes, o que funciona para um, pode não funcionar para o outro.
Na sala de aula, a indicação é a de que a construção seja coletiva, com todos os alunos participando e opinando, para que possa ser utilizado por todos os alunos quando necessário e até mesmo pelo(a) professor(a).
Procure se lembrar que hábitos levam tempo para serem construídos, mas quanto antes começarmos, antes eles serão aprendidos. Que tal tirar um tempinho e construir hoje mesmo o seu cantinho da calma e o de seu(s) filho(s) ou aluno(a)s?
Dessa forma, você começa a construir a experiência da autorregulação com eles desde a infância, o que será muito importante para eles em toda a sua vida futura.
Leia também: Como lidar com os desafios do comportamento da Birra
Obrigada por passar estas dicas.
Gratidão é nossa em saber que as dicas estão agregando. Abraço