E quem cuida de você?
Em meu trabalho com famílias essa é uma pergunta que sempre rodeia a terapia. Mães, pais, avós e avôs, cuidadores… não importa quem seja, a resposta é sempre a mesma: um suspiro acompanhado de “não sei” ou “pois é”.
Pensando nisso, e considerando as ações da campanha do Janeiro Branco, resolvi dedicar esse texto a você que cuida, se preocupa e se dedica a tornar a vida de outras pessoas melhores e mais fácil. Às vezes até sem o reconhecimento desejado.
As comemorações do Janeiro Branco tiveram início em 2014 e a campanha foi pensada por um grupo de psicólogos preocupados em divulgar a importância do cuidado com a saúde mental e emocional. O mês foi escolhido aproveitando sua fama de mês de reflexões, recomeços e renovações. Mas, é necessário que esse tema esteja sempre presente, pois o cuidado com a saúde mental e emocional deve ser constante e contínua.
Não é fácil cuidar de outrem e são vários os tipos de cuidado. Cuidar da casa, das crianças, dos animais de estimação. Cuidar para não esquecer um compromisso, um produto a ser comprado, uma consulta.
Todas essas formas de cuidado fazem partes das atividades instrumentais de vida diária (AIVDS) estudadas pela Terapia Ocupacional. As AIVDS são atividades muito complexas, pois para desempenhá-las são necessárias habilidades previamente adquiridas.
Na tentativa de cuidar de todo mundo e de tudo, muitas vezes, o cuidador se sente sobrecarregado, esgotado e mal recompensado. O cuidar torna-se a única ocupação significativa na vida da pessoa, ao mesmo tempo que lhe concede prazer e também o deixa triste.
É importante lembrar que a saúde física, emocional e mental daquele que cuida também são afetadas pelos problemas daqueles por quem ele é responsável.
E o que muitos cuidadores esquecem é que para ter um bom desempenho no ato de cuidar é necessário antes de tudo estar bem consigo mesmo. É preciso cuidar de si. Se colocar em primeiro lugar não é egoísmo, é amor próprio.
Exaustão, cansaço, sensação de estar fisicamente esgotado; raiva diante de pedidos e demandas; pensamento negativo, irritabilidade; ideias persecutórias; ganho ou perda de peso; dores de cabeça e sintomas gastrointestinais frequentes; insônia; limiar de tolerância rebaixado em situações cotidianas;
falta de ar; sensação de desamparo; e pouca atenção diante de situações de risco são alguns sinais de alerta.
Ficar atento a esses sinais e buscar ajuda são essenciais para prevenir o adoecimento e preserva a sua saúde física e mental.
Quando foi a última vez que você dedicou um tempo só para você?
Quando foi a última vez que você optou por tomar banho antes de dar banho nas crianças?
Quando você deixou de lado as tarefas de casa e ficou de pernas para o ar?
Quando foi a última vez que você saiu com amigos ou foi passear?
Parar para refletir sobre essas questões ajuda a pensar em estratégias para o autocuidado. Aproveito para dar uma dica: faça um planejamento diário, semanal ou mensal das tarefas que você precisa realizar. Nesse planejamento, tente perceber quanto tempo você tem gasto no cuidado com os outros e acrescente um tempo para dedicar a você.
Comece com uma atividade física, um curso, leia um livro, vá ao cinema. Enfim, procure atividades que sejam significativas para você e que lhe concedam sensação de bem-estar.
Desconecte-se das tarefas cotidianas por um dia ou por um período do dia para fazer algo por você.
E caso apareça algum sentimento de culpa, mande o embora na mesma hora. Cuidar-se é primordial e essencial para quem quer cuidar de outras pessoas. Nunca se esqueça disso!
Portanto, o cuidador também precisa ser cuidado!
Por Suellen Merencio
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Imagem: FreePik