Provavelmente você já ouviu falar sobre o trabalho em equipe ou trabalho multidisciplinar. Mas, você sabe como funciona?
Nesse texto, vamos apresentar um relato de experiência do trabalho multidisciplinar desenvolvido pela fisioterapeuta Fernanda e a Terapeuta Ocupacional Suellen.
Nosso trabalho iniciou-se após uma discussão em equipe sobre Francisco (nome fictício) que apresentava pouca melhora no desempenho das atividades escolares.
Francisco tem oito anos, diagnóstico de transtorno do espectro autista severo e nunca havia realizado terapia antes. Seu maior interesse era bola, bexiga e música. Não respondia ao chamado de seu nome, sua postura era curva e inclinada, seu olhar era direcionado para o chão. Ora, olhava fixo para a mão esquerda. Ora, a mão esquerda ia parar na boca. Não aceitava o toque e pouco interagia com o ambiente ou com as pessoas. Não se alimentava sozinho, usava fralda, não tinha iniciativa e autonomia nas atividades de vida diária.
Por apresentar alterações posturais importantes, tônus baixo, déficit de equilíbrio, entre outras questões motoras, elegemos os recursos do método Pediasuit para conseguir alcançar os objetivos dos atendimentos terapêuticos, tanto de Fisioterapia quanto de Terapia Ocupacional.
O método Pediasuit foi criado por um terapeuta ocupacional, Leonardo Oliveira. O Pediasuit consiste em exercícios combinados com o uso do macacão terapêutico, que promove o realinhamento corporal e a propriocepção, o que acontece pela resistência dada pelos elásticos.
Na gaiola, chamada de “spider”, há uma infinita possibilidade de trabalho a ser realizado, depende muito da demanda do paciente e dos objetivos a serem alcançados.
No nosso caso, os objetivos principais eram a melhora do equilíbrio, aumento de tônus de base, aprimoramento da coordenação motora ampla e fina, entre outros. Para isso, trabalhamos muito com transferências de peso na bola, no rolo, de pé, realizando os ajustes posturais necessários. Muitas atividades com bola (chutes, arremessos, pegar a bola).
E, posicionado na gaiola ou apenas utilizando o macacão terapêutico, o paciente apresentava uma postura melhor para realizar as atividades sensoriais e estruturadas de Terapia Ocupacional como manipular massinha, parear cores, levar argolas ou bolas de um lugar ao outro, entre outras.
O treino da alimentação independente foi possível também com a melhora postural apresentada por Francisco. Devido sua dificuldade em realizar o desvio radial (movimento realizado pelo punho e que permite levar o alimento, sem deixa-lo cair, até a boca), a terapeuta ocupacional adaptou uma colher com a angulação e engrossamento necessários para facilitar o desempenho nessa atividade.
A técnica de sombra, ou mão-sobre-mão, também foi outro recurso utilizado para que o paciente compreendesse as etapas da atividade de alimentar-se e outras realizadas na gaiola do Pediasuit. Atualmente, o paciente necessita de pouco auxílio para alimentar-se sozinho. Já compreendendo e realizando as etapas da atividade.
Francisco apresentou melhora também na manipulação de objetos, aceitando outros brinquedos que não apenas aqueles citados acima. Está mais receptivo ao toque, abraçando e olhando nos olhos das terapeutas, e de outras pessoas de seu convívio, quando chamado ou quando percebe que fez algo certo. E, consequentemente, percebemos melhora na interação interpessoal e com o ambiente.
Consideramos uma grande evolução o desenvolvimento da habilidade de saltar sem apoio, com os dois pés juntos. Esse movimento começou com o apoio dos elásticos, na gaiola, de forma passiva e depois foi se internalizando, até que hoje, o paciente já é capaz de saltar sozinho. O ganho dessa habilidade e a melhora na noção de esquema e consciência corporal do paciente, demonstrou que estava na hora do processo de desfralde, que está em andamento.
Com o trabalho multidisciplinar entre Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional espera-se por novas conquistas, principalmente no que consiste a promoção da autonomia e independência do paciente.
Vale destacar: todo trabalho em terapia só foi possível e teve resultados graças ao envolvimento da família de Francisco e dos demais envolvidos no seu cuidado. As orientações repassadas aos pais eram realizadas em casa, o que era perceptível a cada sessão de terapia.
Por Fernanda Camargo e Suellen Merencio
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