Andador. Para quê?

Há vários anos, a Sociedade Brasileira de Pediatria vem promovendo diversas ações para banir a produção e o comércio de andadores no Brasil. Muitas famílias ainda utilizam esse aparelho com seus filhos, no intuito de promover maior independência motora e, erroneamente, estimular a marcha.

Em 2013, uma juíza de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, expediu uma liminar proibindo a venda. Porém, logo foi suspensa pelos desembargadores gaúchos com a alegação de que não era dever da justiça tal decisão.

A grande verdade é que o andador é um verdadeiro perigo para os bebês e algo completamente desnecessário. É por isso que todos os profissionais que atuam com desenvolvimento infantil não indicam seu uso.

Quem vende, fala em liberdade de movimentos, porém estamos falando de bebês que geralmente são colocados no andador por volta de 7, 8 meses de idade e que ainda não tem nenhuma noção de perigo. Muito pelo contrário, seu desejo é explorar o ambiente em que está, sem levar em conta se há escadas, tomadas, objetos que não são próprios para crianças.

No andador a criança fica exposta à diversos riscos e seu desenvolvimento psicomotor pode ser prejudicado. A chance de cair e sofrer um traumatismo craniano é muito grande. Isso acontece porque a parte do corpo que fica mais desprotegida é a cabeça. Por conta das rodinhas que possui, o andador ganha velocidade muito rápido e a criança ainda não tem organização espacial para desviar de objetos que estão no seu caminho, levando à quedas.

Além disso, ela pode ter acesso à lugares da casa como escadas, piscinas, fogão, armários. Então, existe o risco de quedas, afogamentos, queimaduras, intoxicações.

Em 2015, o INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) analisou 10 marcas de andadores disponíveis no mercado brasileiro. Foram avaliados quesitos como estabilidade, assento, prevenção de quedas, entre outros. Nenhum dos equipamentos foi aprovado no teste de qualidade.

O uso do andador também provoca atraso no desenvolvimento motor, principalmente na aquisição da marcha, ou seja, do caminhar independente da criança. Isso acontece porque muitas crianças que utilizam o andador pulam uma etapa muito importante que é o engatinhar.

Ao engatinhar, o bebê realiza novas conexões cerebrais, fortalece a musculatura de membros superiores, principalmente de punho (importante para a escrita), realiza o movimento cruzado (avançar com o braço direito e a perna esquerda e vice-versa) e dissociação de cinturas, uma preparação para a marcha.

A aquisição do caminhar independente se atrasa também porque no andador as crianças “andam” com as pernas flexionadas e sem fazer sustentação de peso nas pernas, uma vez que permanecem sentadas.

No andador, muitas crianças ficam na ponta dos pés e com isso desenvolvem encurtamento da musculatura posterior das pernas, uma postura que permanece mesmo ao caminhar sem o andador.

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Também podem surgir alterações de joelhos, levando à rotação interna dos pés, fazendo com que a criança tropece frequentemente.

O desenvolvimento cognitivo também é prejudicado. A criança aprende na interação e na exploração do ambiente. Quando está no andador, o acesso aos objetos fica bem mais restrito.

Portanto, se queremos o melhor para nossas crianças precisamos deixa-las livres! No chão, as crianças têm a oportunidade de explorar, experimentar novas posturas, texturas, ganhar autonomia e independência ao tentar buscar um brinquedo que se quer, por exemplo.

Se você preferir, pode usar tapetes de borracha, EVA, ou até mesmo forrar o chão com uma manta ou edredom para que a criança não fique em contato direto com o piso.

É claro que a supervisão constante de um adulto é necessária, bem como outros cuidados como a limpeza do local, proteção das tomadas, bloqueio do acesso aos armários com medicamentos e produtos de limpeza, fogão.

Cabe aqui ressaltar que existem um outro tipo de andador que pode sim ser usado. Nele, a criança apenas faz o apoio com suas mãos, como um carrinho de mercado, mas é totalmente responsável pela sua sustentação na posição de pé. O andador serve como um ponto de apoio, já que o equilíbrio nessa fase ainda é precário.

Limitar os movimentos de uma criança seja no andador, no carrinho de bebê, no cercadinho é limitar seu desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo e social. Crianças precisam de liberdade, mas sempre com segurança!


Por Fernanda Alves.

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