Sim. A cárie é uma doença. E é como doença que deve ser encarada. É uma doença multifatorial, que resulta do desequilíbrio entre os processos de desmineralização e remineralização dos tecidos dentais: esmalte e dentina. Quando prevalece a desmineralização, aí sim, é que podem aparecer as lesões cariosas. As lesões podem ir desde níveis subclínicos (não visíveis a olho nu) até grandes cavidades (facilmente identificadas). Uma pessoa pode ter várias lesões cariosas, mas não terá “cáries”. O termo no plural não existe e tira o carácter de doença que de fato possui. É o mesmo que dizer que alguém tem “pneumonias”.
Como doença, mais do que simplesmente tratar das lesões (de qualquer nível de severidade e comprometimento dental), é necessário tratar a causa, no caso aqui as causas. Mas quais são essas causas?
A doença cárie é multifatorial. Ou seja, depende da interação de vários fatores para sua ocorrência. A presença isolada dos fatores não levará a manifestação da doença. O primeiro fator é a presença de bactérias, chamadas de cariogênicas, agregadas junto dos dentes. Todos nós temos essas bactérias em nossas bocas. Basta ter dentes que passamos a ser colonizados por elas. Fazem parte da nossa flora normal. Sendo assim, apesar da sua participação no processo da doença cárie, só a presença das bactérias NÃO acarreta no desenvolvimento de lesões. Por isso, a cárie não é uma doença infecciosa ou contagiosa. Essas bactérias só passam a ter potencial de provocar as lesões quando se encontram organizadas e em número elevado, junto dos dentes, na placa bacteriana. A desmineralização dental decorre do metabolismo dessas bactérias, que para se alimentarem fermentam açúcares (carboidratos) e tem como resultado final um ácido. É esse ácido o responsável por retirar os sais minerais dos dentes. Quando isso tudo acontece repetidas vezes durante certo tempo, temos o desenvolvimento das lesões de cárie.
Para tratarmos a doença não basta, portanto, ir ao dentista para a realização de tratamentos restauradores, os quais servem pra fechar uma cavidade devolvendo forma, função e estética ao dente afetado. É necessário principalmente controlar os fatores de base, ou seja, focar numa boa remoção e desorganização da placa bacteriana (através da escovação) e controlar a freqüência e quantidade do consumo de açúcares (diminuindo o acesso nutricional das bactérias).
